Voragem (Manji) de Junichiro Tanizaqui


"Vim hoje á sua casa com a intenção de lhe contar todo o incidente, sensei, mas... noto que interrompi seu trabalho. Tem certeza que não se importa? Narrada em detalhes, a historia é longa e tomará um bocado do seu tempo... Eu podia até registrar os acontecimentos no papel em forma de romance e submete-lo em seguida á sua apreciação, soubesse eu ao menos redigir melhor. Falando a verdade, eu me pus realmente a escrever há alguns dias num repente, mas o fato é que as ocorrências se embaralhavam em minha cabeça e, despreparada como sou, não nem sequer descobrir por onde ou de que jeito começar. Logo vi que só me restava realmente esta alternativa: pedir-lhe a atenção. E aqui estou, embora aflita por perturbar suas preciosas horas de trabalho. Tem certeza que não se incomoda? Sempre me tratou com tanto carinho, sensei, que acabo abusando da sua generosidade. Aliás, nunca serei capaz de agradecer devidamente tanta bondade, por mais que me esforce."

Nome original: Manji
Autor: Junichiro Tanizaqui
Paginas: 240
Editora: Companhia das Letras
*dados da edição que eu tenhoCompre o livro aqui pela Amazon ou pela Tag aqui.

Nota: ★★★★

O livro traça a história de uma mulher que leva uma vida tediosa com seu marido ingênuo e dependente. Durante uma de suas aulas de arte, descobre a existência de uma jovem sedutora, que levará a protagonista a afundar, pouco a pouco, em um jogo de seduções, mentiras e traições.

"Voragem" do incrível autor japonês Junichiro Tanizaqui traz ao leitor uma historia de paixão, ciumes e poder. Uma trama cheia de reviravoltas que nos deixa preso a leitura do inicio ao fim.

A historia é narrada por Sonoko Kakiuchi, uma mulher jovem que, apesar de casada, não tem seus desejos sexuais realizados, e que inclusive já teve um caso amoroso fora do casamento, a qual seu marido tinha conhecimento. Essas informações já são dadas ao leitor logo no inicio da narrativa, facilitando assim entender a facilidade com que Sonoko se entrega a uma relação homossexual com sua colega de classe Mitsuko tão rapidamente.
Nas poucas observações que o autor insere na obra, Sonoko é sempre citada como viúva, deixando assim o leitor já a par do destino fatídico de seu marido na historia, porém ficamos mesmo assim ansiosos pra entender melhor o que realmente aconteceu. Vemos no marido de Sonoko um personagem passivo e ingenuo, que apesar de desconfianças das traições, nada faz em relação a isso, pelo contrario, obedece as vontades da esposa. Mas é então que conforme continuamos a leitura, entendemos que essa é somente a imagem que ele quer passar a esposa, o papel dele será maior que imaginamos.
Essa foi uma boa jogada por parte do autor, ele nos apresenta personagens (como exemplo o marido, a empregada de Mitsuko) que não tem grande valor na historia de inicio e que se mostram passivos aos acontecimentos, mas que ao desenrolar da trama tem um grande papel no relacionamento de Sonoko e sua amante.

Ao desenrolar da trama vemos personagens complexos, difíceis de compreender e principalmente difíceis de acreditar, isso porque a historia é contado exclusivamente pela personagem principal, assim ela narra os acontecimentos de acordo com o que foi contado a ela, porém o relacionamento dela com o restante dos personagens é cercado de mentiras e traições, deixando varias (e quando digo varias são varias meeesmo) reviravoltas ao decorrer da narrativa.

O livro é de leitura rápida, e por conta das grandes reviravoltas que temos na trama toda, fica difícil falar mais sobre ele sem contar algum tipo de spoiler. Não indico pra quem gosta de historias mais delicadas e sensíveis, Voragem é uma trama ambiciosa e cheia de plot twist nada inverossímeis, assim como traz o nome do livro, o ritmo dessa historia é voraz, não somente isso mas tudo na obra, seus personagens, sentimentos, desejos.
O leitor pode ficar confuso e sobrecarregado em alguns momentos, minha dica é tentar dar uma pausa entre capítulos pra conseguir absorver melhor esse intenso romance.

Junichiro Tanizaqui se inspirou na sexualidade e na arte Shunga (foto do post) para criar a historia de "Voragem", vale a pena conhecer mais sobre essa arte que se tornou ilegal na Era Meiji (1868-1912) e mesmo nos dias de hoje se tornou um tabu na cultura ocidental.

Junichiro é bem detalhista em sua escrita, estilo que adoro. Acredito que dessa forma é mais fácil se conectar com os sentimentos e desejos dos personagens e assim entrar de cabeça na historia, como se estivesse nela, afinal, não é esse o intuito da leitura? Nos fazer conhecer historias, lugares diferentes, viajar... quem concorda?

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